O Natal segundo Jamie Oliver
Como nativo do Essex e de boa raça, não há nada que Jamie Oliver goste mais do que das suas aves - e ainda mais no Natal. O Natal em casa de Oliver é quase tão à Dickens como o homónimo literário de Jamie: ele insiste que todos devemos fazer a festa completa. Mas cozinhar para uma dúzia de convidados e para as suas excitadas filhas, Poppy, de 6 anos, Daisy, de 7, e a bebé Petal, é muito para uma pessoa só, mesmo sendo um rei da culinária internacional. Foi por isso que Jamie surgiu com um plano infalível para a Ceia de Natal perfeita. Brinquedos da Guerra das Estrelas e uma bateria entusiasmaram-no na infância. Hoje, é a crosta perfeita das suas batatas no forno e os legumes certos. Com mais um bebé a juntar-se à mesa, este Natal é uma boa oportunidade para Jamie aperfeiçoar a sua ementa natalícia e, como é seu hábito, passá-lo para todos nós.
Vai ter um Natal muito ocupado?
É sempre. Temos cerca de 14 adultos, mais as crianças - mamãs, papás, sogra, cunhada, cunhado, amigos e alguns sem-abrigo e extraviados.
Sempre quis uma grande família à sua volta?
Nem sempre. Mas foi o plano da Jools. Ela quer uma grande família tradicional. Eu estou muito satisfeito com o que já tenho. Se não tiver mais filhos, ficarei muito feliz, mas depois se vê o que é que a minha mulher tem a dizer sobre isso. Quando se trata de crianças, ela é muito convincente. Aliás, é ela quem manda cá em casa. Pessoalmente penso que ela abusa de mim! Pelo menos no que toca a fazer bebés. Sou o cão da casa, não mando nada. Não tenho nenhum poder nesta família. Não me dão atenção.
Referiu-se a si próprio como um pai de fim-de-semana, portanto deve ser agradável ter um tempo de folga no Natal.
É, mas eu só trabalho tanto como qualquer outro pai que trabalha muito. Durante a semana, só vejo as miúdas de manhã; depois estou com elas durante todo o fim-de-semana. Não é uma situação que me agrade particularmente, mas não me sinto culpado porque a Jools está sempre atenta a tudo. Tenho muitas responsabilidades. É uma pena não conseguir estar mais disponível durante a semana, mas é muito difícil - é óbvio que se as minhas filhas alguma vez se queixassem, isso podia mudar. Dentro de dois ou três anos espero conseguir recuperar meio dia à sexta-feira, bem como tudo o que ficou para trás. Claro, perco muita coisa, mas sinceramente acho que isso também acontece a muitos pais e a muitas mães. Emprego diversas mulheres e acho que é realmente difícil para muitas raparigas. É por isso que hoje em dia os pais são demasiado tolerantes, porque se sentem culpados por terem tão pouco tempo para estar em casa.
Sente-se culpado?
Não, eu sou duro (risos). Sou um pai bastante severo. Elas dão desculpas, mas eu gosto de crianças que aprendem cedo a trabalhar, mesmo com cinco ou seis anos podem levantar a mesa, arrumar as coisas e lavarem-se, tornarem-se úteis e contribuírem. É fácil perceber quando os nossos filhos começam a tomar as coisas por garantidas. Enfim, saí ao meu pai!
Que tradições natalícias é que segue?
O que eu gosto de fazer é ir à Internet buscar anedotas porcas e metê-las nos embrulhos juntamente com bons presentes. Há três anos arranjei uma caixa vazia de viagra, enchi-a de smarties e meti-a no embrulho da minha avó. E pus um creme para fazer crescer o cabelo no do meu pai.
O que pôs na sua lista de Natal?
Não quero nada além de um pouco de paz e sossego. Não tenho uma lista de Natal. Cheguei a um ponto da minha vida em que me interessa mais o que as outras pessoas querem.
Qual é a sua recordação mais grata do Natal?
Quando os meus pais me compraram a minha primeira bateria. Era uma Thunder 3 do catálogo do Freemans. Para ser honesto, era uma m**** - mas foi sem dúvida o presente de Natal que mais me entusiasmou na vida. Tinha 11 anos. Hoje tenho uma bateria a sério.
Qual foi o melhor presente que Jools lhe deu?
Ela fez uma coisa muito divertida há uns anos - terá sido no dia de São Valentim? - apareceu de pompons nos mamilos e a fazer uma dança esquisita muito engraçada. Não tenho a certeza que a coisa corra tão bem agora com a sogra a assistir de boca aberta. Talvez se possa abster da dança anual. Provavelmente o melhor presente que recebi foi o meu caça X-wing da Guerra das Estrelas e alguns modelos quando tinha 10 anos. A Jools comprou-me um telescópio incrível no ano passado, muito bom, que comunica com computadores e satélites e onde posso ver Júpiter e Saturno e todos os anéis. Tenho-o no Essex, é o observatório Oliver. Obviamente de estrelas, não o ia utilizar para espreitar mulheres nuas (risos).
Qual foi o seu melhor Natal de sempre?
Para ser honesto, somos uma família que gosta muito do Natal, portanto todos os anos o Natal é especial. A única coisa é que nunca varia. É verdade, os mesmos rituais todos os anos. Fazemos a mesma m**** todos os anos o melhor que podemos, com uma pequena variante. Procuro sempre tornar as coisas cada vez melhores. No dia de Natal, não quero ficar sentado todo o dia virando os legumes, reduzindo molhos e desossando perus inteiros para os mergulhar em qualquer coisa. Quero ter um assado fantástico, um molho óptimo, legumes saborosos, um bom vinho, pôr uma mesa bonita e depois brincar o mais possível com as minhas filhas e os meus amigos.
Porque é que acha que algumas pessoas entram em pânico quando se trata de cozinhar o jantar tradicional de Natal?
A questão é que, no fim de contas, talvez 65% do país cozinha poucas vezes a partir do zero e a única vez em que todos o fazem é no mesmo dia - o dia de Natal. Nem sequer têm um tempo de preparação como é o dia de Acção de Graças nos Estados Unidos. Portanto, a verdade é que há muitas lágrimas no Natal porque as pessoas não estão habituadas a cozinhar a partir do zero.
Diria que é muito difícil cozinhar bem um peru?
Em teoria o peru é difícil talvez devido ao formato da ave. Se pegarmos numa costeleta de vaca ou num lombo ou chã de dentro, num lombo de porco ou numa perna de cabrito, o formato é mais uniforme, mas se tivermos um belo peru com um bom peito carnudo, pode dar errado se não lhe dermos a atenção que ele exige. O truque consiste em prepará-lo da forma mais simples possível.
Come sempre peru no Natal?
Peru e ganso. Ainda há 70 anos era mais comum fazer um ganso, mas os perus são tão baratos e muito fáceis de criar; é impossível criar gansos em aviários, eles não aguentam. Como fiz um ganso no ano passado que ficou absolutamente espectacular, este ano vou fazer outro.
Qual é o seu aperitivo preferido nas festas?
Além da cerveja? Para ser honesto, temos coisas como mistura de frutos secos que se comem no Natal. Aquecemo-los e ficam deliciosos. Quando faço aperitivos, o meu favorito é paté com tostas.
Quem seria o seu convidado preferido para a ceia de Natal?
O Ricky Gervais (humorista) seria divertido. Tive o prazer de estar com ele algumas vezes, é muito brincalhão. O Elvis seria agradável, gosto dele. Também seria bom deixar voltar o John Lennon para este dia. Penso que como bom nortenho ele gostaria das minhas batatas no forno. O Elvis iria certamente pôr peru em três fatias de pão para fazer uma enorme sanduíche.
(Texto publicado na Revista Única da edição do Expresso de 19 de Dezembro de 2009)